A sociedade Cooperativa de Santa Isabel chegou a processar 28 mil litros de leite por dia e foi uma das maiores empresas da cidade. Mesmo declarado indisponível pela Justiça do Trabalho, o prédio ainda é o maior patrimônio de dezenas de pequenos produtores rurais.
Um dos maiores patrimônios da região, tanto econômica quanto historicamente, a Cooperativa Mista de Laticínios de Santa Isabel e Igaratá está em hasta pública em decorrência de má gestão e dívidas contraídas por direções ao longo dos últimos anos.
Veja Também
- Comunidade se une para acabar com problema
- Denúncia de fraude em Processo Seletivo
- A missão de fazer crianças felizes
Fundada na década de 1950, a Cooperativa de Santa Isabel era proprietária de grande extensão de terra no centro da cidade. Mas desde o esgotamento da produção de leite das propriedades rurais da região, sucessivas direções, para pagamento de dívidas, empreenderam vendas de parcelas do imóvel retalhando em lotes a gleba que originalmente ia da rua Santa Cruz até a rua Rodrigues Alves. Restou apenas o atual imóvel, com cerca de cinco mil m2, localizado bem defronte à avenida Cel. Bertoldo.
O imóvel está avaliado em R$ 15.160.918,00 para lances que começam no dia 21 de outubro, ou à metade desse valor, para lances a partir do dia 26 em decorrência de uma dívida de pouco mais de cinco mil reais.
A quitação dessa dívida, entretanto não encerra o leilão. No rastro dela outras podem somar elevando o débito a mais de dois milhões de reais, sem contar compromissos fiscais e previdenciários, cuja valor ainda é desconhecido. Por mais estranho que pareça, as maiores dívidas da cooperativa são com antigos presidentes da entidade, uma delas resultante de uma confissão de dívida feita pelo próprio interessado-credor.
O prédio está, por determinação da Justiça do Trabalho, indisponível; contudo, já existe notícia de negociação de fração do imóvel remanescente que poderá, inclusive ser incluído no leilão independentemente da venda já realizada, prejudicando o adquirente.
Segundo o advogado Luís Carlos Correa Leite, que se dedica a gestão de falências e liquidações, a situação da Cooperativa requer a intervenção do Ministério Público para que os cooperados, em sua maioria pessoas simples, antigos produtores rurais e dezenas de famílias herdeiras, não sejam chamados à responsabilidade futuramente.
Para ele é necessário dissolver a cooperativa para que ela não assuma mais compromissos e que, após o devido processo de liquidação, com inclusão de todos os credores, e dada a sua notória inviabilidade econômica, tenha suas atividades encerradas.
Cooperativa se manifesta
À frente da Cooperativa desde 2018, o advogado Reinaldo Costa Machado foi reeleito em agosto do ano passado com a missão que ele mesmo descreve como “de proteger os poucos mais de 30 cooperados e recuperar a entidade sem destruir o seu patrimônio”.
Ele conta que hoje a Cooperativa sobrevive com a venda no varejo de leite integral, embalado em saquinhos, por R$5,50 e queijo fresco “sempre mais barato do que os oferecidos nas padarias e supermercados”. – Nossa marca é uma homenagem à cidade, Cooperbel. Temos o SIM (Serviço de Inspeção Municipal) que permite a venda de nossos produtos no município, explica.
Nos últimos anos Reinaldo à frente de dois funcionários e alguns voluntários tem focado seu trabalho na quitação das dívidas. Nessas negociações transformou dívidas bancárias pagando, em parcelas, apenas 47% do valor histórico. – Infelizmente fomos obrigados a interromper a quitação de obrigações trabalhistas devido a suspenção de pagamento de um acordo de venda de uma fração do imóvel que faz frente para a avenida Manuel Ferraz de Campos Salles.
Reinaldo define a situação da Cooperativa como uma consequência de desmandos e pouca transparência em administrações passadas e teme que os pequenos produtores que resistem aos avanços dos que cobiçam o patrimônio imobiliário da cooperativa passem a responder por dívidas que não contraíram.
Nos quatro anos de sua administração Reinaldo recuperou a plataforma e os equipamentos da Cooperativa e sobretudo investiu na comercialização, além de suportar os custos das diversas ações que tramitam na Justiça: – São 48 ações que no fórum de Santa Isabel, nenhuma líquida e certa, inclusive essa do leilão que já entramos com impugnação especialmente porque a dívida que deu origem ao processo, já está quitada faltando apenas a manifestação do credor no processo.
Reinaldo vê como solução para a Cooperativa somente o sossego: – Se os diretores que, por dez anos, levaram a entidade ao fundo do poço pararem, vamos nos recuperar. É preciso também que a Justiça seja mais ágil e libere os recursos que temos a receber. Temos planos que incluem o aumento da produção e da logística que, em dois ou três anos, podem melhorar as condições dos cooperados que é a verdadeira função da Cooperativa.