Blackface: Professor explica porque o ato é considerado racista

Professor da UNESP Bauru, ativista e antirracista, Juarez Xavier explica a origem do blackface e por que o ato deve ser considerado racista 

blackface
A prática "blackface" surgiu numa época em que os negros nem eram autorizados a subir nos palcos e atuar, por causa da cor da pele.

Do inglês, black, “negro” e face, “rosto”, a prática consiste na pintura da pele com tinta escura. Estipula-se que tenha iniciado por volta de 1830, nos Estados Unidos, em meio ao período de transição entre escravidão e abolição da escravatura. Para explicar um pouco sobre este tema, o Jornal Ouvidor reproduz uma entrevista do professor da Unesp Bauru, e ativista antirracista, Juarez Xavier.

Veja Também

“Após a abolição nos Estados Unidos, para poder criar um mecanismo de subjetividade negativa sobre a população negra, passaram a usar estereótipos de forma negativa para poder caracterizar a população negra como incapaz de conviver com os direitos democráticos de liberdade. Ou seja, ela tinha liberdade, mas não tinha cidadania”, explica o Professor.

Ao contrário do que a normalização da prática deu a entender por muitos anos, o “blackface” não se trata apenas de pintar a pele de cor diferente.

Professor da Unesp Bauru, e ativista antirracista, Juarez Xavier.

Além de professor da Unesp Bauru, Juarez também é coordenador do Núcleo Negro Unesp para a Pesquisa e Extensão (Nupe). Ele explica que a origem da prática está diretamente atrelada à ridicularização de pessoas negras e tinha como finalidade a privação ao negro no exercimento da cidadania.

“A pesquisadora Patrícia Collins classificou essa e outras práticas como imagens de controle. Essas imagens negativas da população negra criam uma subjetividade que legitima as práticas de violência e negação da cidadania da população negra. Ela criminaliza o direito de cidadania da população negra e cria um viés social que legitima a brutalidade e a destruição dos corpos negros nas sociedades racistas”, comenta.

No século 19, atores brancos usavam tinta para pintar os rostos de preto em espetáculos humorísticos, se comportando de forma exagerada para ilustrar comportamentos que os brancos associavam aos negros.

Essas personagens não tinham características positivas: falavam errado, eram mal caráter, preguiçosas, atrapalhadas, sexualizadas, violentas e animalescas. Através do “blackface”, pessoas negras eram ridicularizadas para o entretenimento de brancos. Estereótipos negativos vinham associados às piadas, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.

“Não é inocente a construção dessa imagem, ela tem consequência. Da destruição dos corpos não normalizados, da segregação desses corpos e da negação da cidadania. Essa estratégia foi utilizada em todas sociedades abertamente racistas que brutalizaram as populações não brancas”, conta Juarez.

O professor explica que o uso do “blackface” surgiu numa época em que os negros nem eram autorizados a subir nos palcos e atuar, por causa da cor da pele. Popular, a prática continuou em programas de TV e no teatro por boa parte do século 20, chegando a se tornar um gênero de teatro próprio.

Se inscrever
Notificar de
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments