Quem mora às margens da Rodovia Arthur Matheus, em Santa Isabel, diz colecionar prejuízos chuvas após chuvas: “Toda chuva é uma surpresa diferente, vivemos com medo sem saber se é hora de colocar as coisas para o alto ou não. Não aguentamos mais”, dizem. Quando a chuva não alaga logo de cara, ela com certeza trará alguma surpresa a curto prazo e foi isso que aconteceu no último domingo, quando uma cratera, de aproximadamente oito metros de profundidade, surgiu em um dos terrenos situados no Bairro Morro Grande.
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Segundo Vicente de Almeida, a cratera engoliu uma pilha de tijolos de barro que seriam comercializadas nas próximas semanas. “Uma parte a gente conseguiu recuperar, a outra ficou no buraco, pelo menos uns 5 mil tijolos, cerca de dez mil reais, foram perdidos”, disse o comerciante.
De acordo com a moradora Amanda Valinhos, a cratera do último domingo, não foi a primeira, mas também pode não ser a última: “Em fevereiro de 2023, abriu a primeira cratera aqui nas nossas terras, foi a maior delas, cabiam, pelos menos umas três caminhonetes dentro”, recorda. Amanda disse que, na ocasião, o Departamento de Estradas e Rodagens (DER), responsável pela administração da rodovia, esteve na localidade, mas informou que não conseguiria resolver o problema das famílias de imediato. Com medo das consequências que poderiam vir, com as chuvas seguintes, os proprietários desembolsaram aproximadamente R$12 mil para tentar amenizar o problema.
Quem mora ou tem comércio no local ressalta que as propriedades, do Morro Grande, só passaram a sofrer com as chuvas, após as obras de ampliação da rodovia, realizadas pelo de DER. O problema, segundo eles, é que o órgão direcionou, boa parte das águas pluviais, tanto na Arthur Matheus quanto da Estrada Vicinal da Marilândia, para o lado direito da rodovia, onde estão situadas as casas e comércios, o que de acordo com eles fez com que a manilha, já antiga, não suportasse a grande quantidade de água.
Em março do ano passado, o Ouvidor esteve na localidade, após várias casas na região serem destruídas por uma forte enxurrada. Na ocasião conversamos com Luiz Carlos Favoreto, que há 45 anos mora no local. Ele explicou sobre o problema enfrentado pelas famílias e conhecendo a área como ninguém sabe que o desvio de água realizado pelo DER não foi o adequado. “A manilha para qual eles desviaram toda a água da rodovia, tem entre 50 e 60 centímetros de diâmetro, eu sei, pois, a tubulação foi instalada por mim e pelos demais moradores, que assim como eu compraram seus lotes aqui, ainda no início dos anos 80”, disse.
Entre os prejudicados naquela época estava Bete Catanho. Ela acumula o maior prejuízo entre as famílias. Sua casa foi invadida por uma forte enxurrada de lama, deixando submerso todo o investimento que ela juntou nos últimos 30 anos. Aquela foi a segunda vez que a casa de Bete foi alagada.
Quase um ano depois da forte enxurrada ela não voltou para casa e hoje está morando em uma casa cedida pela mãe. Seu prejuízo entre o abalo da estrutura do imóvel e os móveis que se perderam ultrapassa os R$ 600.000,00. Na mesma área, a família de Dona Tereza, teve um prejuízo de pouco mais de R$ 80 mil para reerguer um muro que caiu em sua propriedade, além da perda de móveis e outros objetos tomados pela lama que desceu da rodovia.
Desde o ano passado, a Defesa Civil de Santa Isabel tem notificado o DER para que o órgão faça a limpeza imediata das caixas de captação de água pluvial nas entradas de jurisprudência do DER, dentre elas a da Arthur Matheus.
“As caixas ao longo da rodovia estão assoreadas o que tem feito com que as águas da chuva tomem o caminho que encontrar pela frente, por isso muitas das vezes às águas acabam represando ao longo da Coronel Bertoldo contribuindo, significativamente, para os alagamentos na entrada da Vila Guilherme”, explicou o Coordenador da Defesa Civil de Santa Isabel, o engenheiro João Buosi.
Ao todo, a Defesa Civil municipal enviou três notificações ao DER, nenhuma delas foi respondida formalmente. Sobre a área do Morro Grande atingida pela última cratera, a Pasta esteve no local durante toda a semana e enviou uma equipe da Prefeitura a fim de realizar as intervenções necessárias.
Ainda de acordo com a Pasta, a cratera, do último domingo, surgiu após a manilha da água pluvial ser entupida por toras de madeira, que foram arrastadas para dentro da tubulação pela correnteza: “Isso provocou o solapamento do piso. Mesmo se tratando de uma área particular, a Prefeitura, por meio do Serviços Municipais, interveio, abrindo o solo e desentupindo a rede. O local apresentava um eminente risco de sofrer um novo desabamento”, explicou Buosi.
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“Mais uma vez não vamos esperar pela ação do DER em vir resolver este problema de maneira definitiva, amanhã mesmo providenciaremos a mão de obra, o material nos foi cedido pela Prefeitura e faremos o que for necessário para liberarmos o espaço, o quanto antes”, disse Amanda Valinhos.
A reportagem do Ouvidor enviou questionamentos ao DER sobre os problemas da Rodovia Arthur Matheus. O órgão informou que precisa de um tempo para avaliar caso a caso e que na próxima segunda-feira, encaminhará um posicionamento oficial.