A olaria que transformou destinos

Quarta reportagem da Série Profissões traz a história de um amor que surgiu em meio ao trabalho árduo dos oleiros, responsáveis pela fabricação de tijolos de barro

olaria
À esquerda: Rita (irmã de José), Aparecida de Fátima e José Nunes, juntos.

Por trás das construções históricas presentes nos municípios brasileiros, estão os oleiros, responsáveis pela produção dos tijolos de barros, considerados uma das principais característica da arquitetura milenar. Na Série Profissões, conheça a história de José Maria Nunes e Aparecida de Fátima, casal que se conheceu na olaria do Morro Grande em Santa Isabel, e em meio os percalços do trabalho manual, constituiu família e contribuiu para a construção de muitos sonhos.

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Hoje, aos 62 anos, José Maria relembra que os anos passados na olaria não foram fáceis. Segundo ele, a dificuldade financeira e as horas exaustivas se faziam presentes diariamente: “A gente ‘deixava o couro e não levava o ouro’. Vivíamos para trabalhar. O pouco de dinheiro que ganhávamos na manhã, era usado para o almoço da tarde”, recorda.
José Maria também comenta que por muito tempo, suas noites de sono foram marcadas pelo trabalho exaustivo, acordando às 2 horas da madrugada para fabricar os tijolos junto com a esposa Aparecida de Fátima.

Aparecida, hoje com 59 anos, relembra os tempos difíceis enfrentados. Irmã mais velha, crescida no trabalho árduo e no barro, conta que aprendeu a “bater tijolos” aos sete anos de idade, em 1971, e viu o ofício retirar aqueles que mais amava: “Eu era a filha mais velha, trabalhávamos no bairro Morro Grande e batíamos tijolos para ajudar nosso pai a ganhar o dinheiro para o sustento da família”, disse.

Mas após a morte do pai em um acidente na própria olaria, a jovem Aparecida assumiu a responsabilidade pela fabricação dos tijolos e o sustento da casa. Segundo Aparecida, por dia era possível produzir até 500 tijolos manualmente.

Ela conta que uma das bençãos que a profissão lhe trouxe foi o amor por José Maria Nunes, com o qual teve cinco filhos, nascidos e criados na olaria do Morro Grande: “Eu trabalhei até mesmo no dia de dar à luz. Eu colocava nossos filhos ainda pequenos em um caixote, para poder trabalhar. Juntava 150 tijolos por carrinho para poder juntar um dinheirinho”, comentou.

Foi notícia no Ouvidor

A virada de chave na vida da família Nunes aconteceu em 1991, graças a oportunidade de José Maria em conseguir um trabalho como ajudante geral em uma empresa local.
Ele afirma que a estabilidade no trabalho na função de Motorista Operador resultou na melhor qualidade de vida da família. Além da união da família, a olaria também permitiu ao casal criar os cinco filhos Reinaldo, Rosana, Regina, Regiane e Raíssa Nunes, hoje formados e atuando como empresários em suas áreas de formação.

Questionado sobre o futuro da Olaria, Sêu Nunes comenta que a profissão não será extinta, porém, já está ‘remodelada’: “Está tudo mais moderno hoje, o sofrimento diminuiu graças aos avanços da tecnologia. Os tijolos e blocos de hoje não são iguais aos que fazíamos”, disse.

José Maria Nunes e Aparecida de Fátima deixam, em suas mensagens para as novas e futuras gerações, o aviso: “Estudem cada vez mais, porque sem estudos, vem a maior dificuldade em garantir um emprego. Hoje em dia, as oportunidades até existem, mas faltam profissionais qualificados, por isso o estudo é fundamental”, finaliza o casal.

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