Deolinda Portela, aos 72 anos, resgata no meio de suas memórias os momentos inesquecíveis vividos em sua adolescência durante a época de Natal: “me lembro de toda a minha família reunida na mesa, minha mãe, meu pai, eu e meus nove irmãos. Ficávamos em volta da mesa celebrando a data. Hoje, me reúno apenas com os velhos aqui do asilo, mesmo assim, fazemos uma ceia especial e comemoramos todos juntos! ”conta ela com um brilho nos olhos e uma voz relutante e lenta.
Veja Também
As lembranças de momentos vividos anos atrás foi-se embora para a maioria dos idosos que estão acolhidos no Lar do Velhinho Prof° Laura Frugoli, em Santa Isabel. Exceto Deolinda Portela, que ainda se mantem ativa e lúcida, poucos se mostram capazes de recordações. Mesmo que Deolinda diga preferir viver os dias como se fossem seus últimos: “Não sabemos o que pode nos acontecer no amanhã. Veja só! Meus colegas já não se lembram de nada e eu agradeço por poder relembrar do que vivi anos atrás com a minha família”, conta ela entre duas cuidadoras do Abrigo onde convivem com 38 idosos a mais jovem, a Deolinda. O mais veterano, com 91 anos.
Nesse ano a ceia de Natal no Lar do Velhinho será mais vazia. Antes, todos podiam contar com a presença de familiares, que enchiam as instalações de risos, abraços e alegrias, mas a pandemia afastou o calor humano, atualmente as visitas são realizadas de forma isolada e a ceia conta apenas com a presença dos próprios funcionários do Lar.
Para Deolinda, a ideia que se tem de esperança que é o principal sentimento do Natal, não é a mesma para todos os idosos. Alguns deles sequer se lembram do próprio nome e o natal é apenas mais um dia na longa espera concedida pela vida. Espera de um filho ou neto que não vem, do presente que um dia foi prometido, mas nunca chegou, a espera e a incerteza do ponto final da existência.
– Nossa esperança, a minha principalmente, é o que me faz viver cada dia imaginando que o amanhã talvez não me permita contar grandes histórias e lembranças como essa, de estar aqui, conversando com você!