Ouvi atento a história contada por meu filho Bruno, o filósofo. Ponderou: você é o condutor de um bonde com 50 passageiros que está chegando a uma bifurcação. Um dos trilhos leva a uma ponte quebrada que, se o bonde for passar, vai acabar de cair e possivelmente todos vão morrer, inclusive você.
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O outro trilho leva a um cenário horrível, dez pessoas foram amarradas aos trilhos e, se o bonde passar, todas elas vão morrer. Por onde você conduzirá o seu bonde?
…….?
Não encontrei uma resposta levando-o a uma reflexão: É melhor passar por cima das dez pessoas, você terá salvo cinquenta pessoas além de você mesmo! Lembrei-me do dilema de Sofia, a mãe judia que teve de escolher entre os dois filhos, qual escaparia da câmara de gás.
Recuso-me a relacionar a bifurcação dos trilhos ao segundo turno das eleições. Preferiria que houvesse mais opções e que nada fosse tão absurdamente maniqueísta: o dualismo religioso que coloca o bem de um lado e o mal do outro. Compreendo o ser humano como o agente de uma diversidade de pensamentos, de interesses, ideologias com muito mais amplitude do que o bem e o mal, a esquerda e a direita como estamos reduzindo as nossas opções.
O candidato que escolhi no primeiro turno não venceu. Eu sabia que não teria nenhuma chance, mas mesmo assim fiz questão de votar para que o pensamento que ele representa possa crescer e entrar entre as opções em um futuro que certamente não será o meu, mas das gerações que seguem.
Sinto que minha esperança será vã. No final, pelas atuais regras do jogo, cairemos todos em duas variáveis em que, ao sermos confrontados teremos de optar por uma alternativa que, mesmo que pese em nossa consciência, será a melhor pois preservará mais vida, inclusive a própria.
Doí-me ver o resultado do primeiro turno com o imenso número de votos nulos ou em branco que, somados às abstenções poderiam dar um rumo totalmente diferente ao processo eleitoral. Questiono os motivos da indiferença dessa população que se omite de manifestar dando o sentido verdadeiro do que queremos: a democracia!
Mas é ela, constato, que nos coloca no bonde da história e nos leva a uma escolha que talvez não gostaríamos de ter feito, mas que somos obrigados a fazer sabendo que nossa omissão pode levar um caminho pior.