“Deixe a política aos políticos”?

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Há quem separe totalmente – como se isto fosse possível – a esfera do religioso e do político, defendendo que ambas sejam mundos estranhos entre si, com afirmações do naipe: “Deixemos a política para os políticos”.

Cabe então perguntar: quem não é político? Aristóteles, o grande pensador grego, não diria uma insanidade dessas, afinal, para o filósofo, o ser humano é, por natureza, um ser político, ou seja, necessita viver em sociedade e em civilidade. Aí se encontra o ponto fundante do que se entende por política, numa conversa de alto nível. Logo, todos que convivemos em sociedade e buscamos o mínimo de civilidade, somos políticos.

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A situação cada vez mais precária das estruturas governamentais – que, vale lembrar, são apenas uma parte do que se chama política – se deve ao fato do desinteresse cada vez maior pela política por parte da população, desinteresse este nascido de discursos como “deixemos a política para os políticos”. Sim, temos deixado, por muito tempo, de exigir diretamente mais responsabilidade e lisura daqueles que legislam e executam em nosso nome e chegamos aos resultados atuais.

A política, infelizmente, passou a ser encarada como profissão e não como serviço ao bem comum, por isso se quer criar a casta de profissionais do ramo. E ai daqueles que querem “se intrometer”! É então que a política se transforma em politicagem, sua perversão.

Em se tratando da tensão religiosos versus política, sim, o Direito Canônico proíbe aos clérigos católicos participação no exercício do poder civil, filiação partidária e assunção de cargos públicos (conforme os cânones 285 e 287). Mas deixarmos de ser políticos seria deixarmos de ser humanos. Aliás, seria trair o dever de busca do bem, da paz, da concórdia, da justiça, comuns a todos os homens e mulheres minimamente civilizados.

Seria deixar de iluminar os rumos da sociedade com os valores e princípios que não dizem respeito somente aos que têm algum tipo de crença. Querer o completo distanciamento dessas esferas é desejar a ditadura do quanto mais desconhecido melhor, quanto menos criticado mais manipulável.

Como posfácio, relembro o pensamento do Papa Pio XI (1857-1939): “a política é a forma mais perfeita de caridade”. De resto, deixo ao caro leitor que pense.

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