A Rainha morreu, mas o reino continua! Dos 70 anos de reinado da Rainha Elizabeth II podemos tirar vários aprendizados, mas em minha opinião um deles se destaca: ao que se saiba ela nunca tirou férias.
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Você pode dizer o que quiser, mas a verdade é que como Rainha, o seu papel sempre foi o de manter o povo unido em torno da nação. Uma nação parlamentarista como a Inglaterra o poder decisório está nas mãos, hoje, da Primeira Ministra Liz Truss, que tem de se entender com o Parlamento. Ela tem de agir como se fosse funcionária da Rainha e, sem dúvida nenhuma terá de, como seus antecessores, consultar sempre o Rei Charles III.
Isso não significa que a Rainha e agora o Rei não precisam trabalhar. A Rainha Elizabeth II sabe-se que ela sempre foi discreta e pouco se sabe das intervenções dela na vida pública do Reino Unido.
Ela jamais se manifestou diante de qualquer problema de natureza política e certamente houveram muitos, caso contrário o reino deixaria de ser unido. Seu papel é o aconselhamento, e a harmonização das divergências. É como se ela exercesse um poder moderador, como o exercido pelos dois reis que governaram o Império do Brasil desde 1822, após a independência que celebramos essa semana.
Divergências políticas existem em todas as nações. Da mesma forma que o radicalismo pode povoar a imaginação e os desejos de muitos cidadãos. Cabe ao poder moderador baixar os ânimos e buscar o entendimento entre as partes, decidindo solitariamente quando é chegada a hora. É o caso do governante do Reino Unido que tem, entre os seus poderes, o de declarar guerra, por exemplo. Mas, sempre por recomendação do Parlamento.
O poder moderador no Brasil foi extinto com a proclamação da República e o entendimento entre as partes foi entregue ao desejo de harmonia entre os três poderes preconizado pela Constituição.
Não penso que o Brasil deva se transformar numa monarquia como imaginam alguns saudosos. Mas acho que carecemos do poder moderador que, em minha opinião, deveria ser exercido pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O que vemos hoje é que este está deixando o seu papel de interprete final das leis e passando a impor as suas próprias convicções, algumas vezes ao arrepio das letras jurídicas.
Os resultados das eleições que se aproximam darão uma visão de nosso futuro. Estamos diante da oportunidade de equilibrar o exercício das forças que nos governam. Para isso é necessário que elejamos as pessoas certas, voltadas como a Rainha Elizabeth II, a construir um legado de dedicação a seu país de forma discreta e silenciosa, sem o vedetismo que temos assistido nos três poderes. No nosso Brasil, somente o executivo diz que não tira férias embora possa desfrutar de diversas datas em praias e em outros cenários de descanso. Mas o recesso parlamentar e jurídico é um mal exemplo.