À primeira vista mal dá para imaginar o que se pode encontrar no Cemitério do Brotas, em Santa Isabel. A capela, recentemente pintada, orna um contraste delicado ao funcho de árvores esguias que projetam sombra e refresco para as tardes de sol causticante.
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Mas, ao caminhar pelos túmulos, os sinais da presença auto predatória dos vivos aumenta, possivelmente, na mesma proporção em que o cheiro de urina e fezes fazem arder as narinas mais sensíveis.
Próximo aos túmulos: garrafas pet de cachaça, sacolas plásticas, calcinhas usadas e rasgadas formam uma trilha até os espaços invadidos.
Os jazigos de família, onde as covas são mais profundas e ligeiramente mais amplas, o buraco é subdivido em lajes programadas para sustentar o peso de caixões de entes que ali descansam no pós vida. Estes locais são os preferidos da ocupação hostil.
Há casos em que a laje se partiu com o peso dos ocupantes vivos que se movimentam, ainda assim, os usuários de entorpecentes permaneceram no local, repousando noite após noite sobre o caixão de uma pessoa morta.
O uso de drogas é inegável, todos os túmulos invadidos acumulam latas amassadas e queimadas. Rastro tipicamente observado nas cracolândias, onde os viciados aquecem as latas de cerveja ou refrigerante para inalar o vapor do crack.
“E dá medo. A presença deles é intimidadora”, disse a primeira pessoa que denunciou o problema para o Ouvidor. Outra denunciante descreve como o filho foi ameaçado pelos invasores de sepulturas:
“Meu filho foi ao Cemitério do Brotas para ver como estava a situação do túmulo da família. Quando chegou lá, viu que estava quebrado, tinha roupas e um urso de pelúcia dentro da própria sepultura. Minutos depois, alguns vândalos começaram a segui-lo, falaram para ele sair do cemitério por que eles que mandam lá dentro”, diz a cidadã que, por segurança, prefere não se identificar.
Em ambos os casos, os familiares lastimam o sentimento de frustração: “Arrumamos o túmulo e os vândalos vão lá e destroem, sem a menor consideração pelo falecido que está enterrado. Ainda assim, no dia 22/03, restauramos o local onde sepultamos nossos familiares, mas, no tempo em que estávamos lá, havia muita movimentação de vândalos pelo cemitério, entrando e saindo de vários túmulos que estavam abertos”.
Para as pessoas que entraram em contato com o Ouvidor, denunciar o problema é, também, um meio de alertar as famílias sobre os perigos escondidos no cemitério.
Segundo informações, a Polícia Militar não pode cuidar da segurança particular do cemitério que, neste caso, é de responsabilidade da prefeitura de Santa Isabel.
Na Lei
O juiz determina se a droga é para consumo ou para tráfico com base na quantidade de entorpecentes apreendidos. Mas, geralmente, os usuários de drogas não ficam presos.
O artigo 28 da lei de drogas prevê três penalidades quando a pessoa se enquadra como usuário de entorpecentes: (1) advertência sobre os efeitos das drogas, (2) prestação de serviços à comunidade e (3) participação em medidas e/ou programas educativos.