É em meio à movimentação do Centro de Santa Isabel, onde a moda é efêmera e as tendências mudam rapidamente, que o alfaiate Josué da Silva Ferreira há mais de 20 anos em sua oficina da Avenida da República, nº32, usa tecidos, linhas, agulhas e bordados para costurar as histórias de centenas de clientes. Roupas que marcam casamentos, festas e até mesmo o cotidiano das pessoas são fruto da imaginação do alfaiate que há 45 anos desbrava a profissão.
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Nascido em 1950, Josué Ferreira relembra que seus primeiros contatos com a alfaiataria começaram logo na infância com as vivências de seu avô, também alfaiate, quando ainda viviam em Canavieiras, localizada no litoral sul da Bahia: “Meu avô já trabalhava na profissão lá no extremo-sul da Bahia. Eu já tinha contato com a alfaiataria desde pequeno”, disse.
Ele conta que o ofício nem sempre foi sua primeira opção: “mesmo conhecendo a profissão, não era o que eu queria”. Josué comenta que ao longo de sua adolescência, foi ajustador mecânico, ferramenteiro… mas a alfaiataria sempre esteve ao seu lado: “eu não conseguia ficar longe da alfaiataria! A proximidade me levou a escolher: eu sou alfaiate!”.
Aos 15 anos de idade e com a decisão, Josué se mudou para São Paulo, a fim de se profissionalizar na área: “Adentrei no mundo dos alfaiates e aprendi muito na Rua da Gávea, na Vila Mariana, Vila Maria… Convivi com os ensinamentos de figuras como Brasilino Thomazini, o alfaiate dos ‘craques’”, recordou.
Josué Ferreira acrescenta que as ‘ombreiras’, ‘telas’, ‘entretelas’, ‘forros bons’ e demais equipamentos o acompanham desde o início de sua carreira, onde a tecnologia manual predomina nas peças: “Não era tão moderno como hoje, que temos materiais que se ajustam às medidas do corpo. A roupa da alfaiataria é mais estruturada, então mesmo com a tecnologia atual, os equipamentos ainda nos acompanham até hoje”, é o que diz o Alfaiate que acompanhou a evolução de sua profissão.
Ao longo de sua jornada na alfaiataria percorreu diferentes oficinas, como na Avenida Doutor Arnaldo – em frente ao Hospital Emílio Ribas e na Rua Cachoeira, em Guarulhos, cidade onde conheceu sua esposa Débora Ferreira.
Josué também detalha que além da profissão, segue fielmente os caminhos da religião, que o fez escolher Santa Isabel como a cidade que chama de lar: “Essa é uma história muito interessante. Sou atuante na Igreja Batista, e o grupo queria iniciar um trabalho aqui na cidade. Eu e outro rapaz viemos conhecer, e eu fui gostando da cidade. Conheci o Doutor Bellini e o Doutor ‘Robertinho’, os primeiros que me incentivaram a construir a alfaiataria aqui no município”, disse.
Em Santa Isabel pôde continuar seus serviços como um dos únicos alfaiates do município, e passou seus conhecimentos para oito garotos, que hoje seguem o ramo da alfaiataria na capital do Estado e fazem parte dos mais de 3 mil alfaiates de São Paulo – segundo dados divulgados pela TV Brasil na última pesquisa, realizada em 2017.
Ao olhar para o passado, Josué da Silva Ferreira, hoje aos 73 anos, recorda de tudo o que a profissão o proporcionou, e de todos os que passaram pela sua vida. Atualmente, além de continuar atuando como Alfaiate na Avenida da República, nº 32, é casado com Débora Ferreira, dirige uma igreja no Jardim Eldorado, é pai de Ariane Cristina, Viviane Ferreira (in memoriam), Débora Cristina e avô de Aisha.
Questionado sobre o futuro da profissão, o Alfaiate afirma não ter medo do que os próximos anos reservam para a alfaiataria, mesmo com a ascensão da grande indústria: “Eu acredito que a profissão não vai parar. Eu vou parar porque a idade vai chegar, é inevitável, mas não parei ainda porque quero continuar sendo alfaiate”.
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Josué deixa, em sua mensagem às novas e futuras gerações, o aviso: “Peço que os jovens busquem aprender as técnicas da alfaiataria, porque esta é uma profissão boa. Com ela aprendi mais sobre o respeito e a confiança, e se pudesse definir em uma palavra, com certeza seria: Gratidão”.