Silvio Santos e as eleições

Janaina Camasmie é jornalista e advogada, especialista em Direito Político. Ela escreve para Ouvidor a cada 15 dias.

O DONO DO BAÚ – Nem todos, especialmente os mais jovens, sabem que o apresentador Silvio Santos, dono do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), falecido aos 93 anos na semana passada, foi candidato à presidência da República em 1989.

A eleição de 1989 foi o primeiro pleito com voto direto após a promulgação da Constituição Federal em 1988. Naquela época, utilizavam-se cédulas de papel para votação.

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Devido ao anseio da população após as Diretas Já e o fim da Ditadura, o número de candidatos presidenciais foi um dos maiores da história, com 20 candidatos concorrendo ao Planalto.

Entre os candidatos estava Silvio Santos pelo Partido Municipalista Brasileiro (PMB), competindo com outros 19 presidenciáveis, incluindo Ulisses Guimarães (PMDB), Aureliano Chaves (PFL), Lula (PT), Collor (PRN), Leonel Brizola (PDT), Mário Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS), Roberto Freire (PCB), Guilherme Afif Domingos (PL) e Ronaldo Caiado (PSD).

O PMB oficializou a candidatura de Silvio Santos apenas duas semanas antes do primeiro turno, que ocorreu no dia 15 de novembro de 1989. Naquela época, as cédulas de votação incluíam os nomes dos candidatos, e o número 26, associado a Silvio Santos, substituiu outro candidato do partido que havia desistido. A campanha de Silvio Santos contou até com um jingle: “É o 26! É o 26! Com o Silvio Santos, chegou a nossa vez”, em um ritmo festivo, semelhante aos de seus programas de televisão.

No entanto, a candidatura de Silvio Santos foi contestada por partidos adversários, que alegaram que, por ser proprietário de uma rede de televisão, ele não poderia disputar as eleições. O impedimento, hoje conhecido como desincompatibilização fora do período exigido, ocorreu porque ele continuou no comando do SBT até duas semanas antes do pleito, o que foi considerado um abuso de poder econômico devido à sua posição à frente de uma emissora de TV sob concessão federal, prejudicando a isonomia na disputa eleitoral.

Pesquisas da época apontavam mais de 30% de intenção de votos para Silvio Santos, o que provavelmente o levaria ao segundo turno, considerando que os outros 19 presidenciáveis dividiam a fatia de 70% do eleitorado.

A Justiça Eleitoral indeferiu a candidatura de Silvio Santos já no primeiro turno, resultando na vitória de Fernando Collor, que disputou o segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva.

Vale destacar que uma das impugnações contra a candidatura do “Dono do Baú” foi apresentada pelo presidenciável Fernando Collor, conhecido como confiscador da poupança — uma ironia das eleições de 1989. Em seguida, Collor sofreu um processo de impeachment. Silvio Santos ainda foi candidato à Prefeitura de São Paulo e ao Governo do Estado, mas se consagrou como um mito na televisão.

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