Placebo

Roberto Drumond - Editor chefe do Jornal Ouvidor, fala sobre decisões do STF.

Placebo – O presidente Lula anunciou em sua live semanal na terça-feira passada que o programa “Desenrola Brasil” já havia restabelecido o crédito de dois milhões de brasileiros.

Foi esse o primeiro sinal de que a iniciativa que pretende restaurar o crédito de 70 milhões de pessoas caminha a passos largos para concretizar o seu objetivo. Na primeira etapa, definida como “Faixa 2”, os débitos bancários estão sendo negociados diretamente com a instituição financeira em condições definidas por cada banco. São dívidas bancárias dos clientes que tenham renda mensal superior a 2 salários-mínimos e menor que R$ 20 mil e que não estejam incluídos no Cadastro Único do Governo Federal. Serão beneficiadas dívidas contraídas entre 2019 e 31 de dezembro de 2022.

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A ideia é que, com seu nome limpo, o cidadão terá oportunidade de reorganizar suas finanças pessoais e renegociar a quitação de suas dívidas com as instituições financeiras e, provavelmente voltar a consumir.

Não resta dúvida de que o restabelecimento do crédito pode desafogar muita gente, mas me pergunto se não seria uma fórmula de criar uma demanda falsa, já que ao permitir a readmissão de um público no mercado consumidor, surgirá uma corrida de consumo que, em breve poderá ser brecada exatamente porque restaura a dívida por incapacidade de pagamento.

O risco de um círculo vicioso desencadeado por essa iniciativa é real, mas pode ter outra consequência paralela. Aumentando o consumo surge a necessidade de produção que pode também gerar empregos, que é a verdadeira necessidade do país. Essa reviravolta é positiva, mas qual será o primeiro impacto? A demanda desenfreada ou a necessidade da produção com a geração de empregos?

Mais de uma vez já dissemos aqui repetindo o que muitos especialistas apontam. A verdadeira dignidade só é obtida com o emprego, o trabalho, o salário digno. Vejo essa iniciativa como um placebo, aquele remédio que dá a sensação de que a doença está sendo tratada, mas na realidade, nada está sendo mudado, a doença continua porque não há emprego. Sem emprego e renda, o cidadão pode até conseguir mais crédito, mas pode voltar a desonrá-lo, levando o governo a fazer o que vai fazer agora: compensar as instituições financeiras pela quitação de dívidas dos consumidores.

Espero que eu esteja errado!

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