O legado de Andhronyco

Tentaram usar o nome do filho de Suelen para derrubar o único homem que a ajudou se despedir da criança. História de uma mãe em luto

Suelen e Andhronyco passeando na Praça. Foto de arquivo da família
No dia 23 de março morreu Andhronyco do Prado Pereira. Filho de Santa Isabel, gestado por uma mãe orgulhosa de seu pequeno milagre, diferente do que disseram todos os médicos, Andhronyco cresceu o quanto pode e, no tempo que se fez presente, por 4 anos e sete meses, deixou lições de vida e esperança.

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Mas a despedida, não tem sido fácil. Nunca é. A mãe Suelen Prado ainda guarda os sapatinhos, dobra as roupinhas que ele não vai mais usar e chora enquanto conta sua história.

“O meu filho nasceu com toxoplasmose congênita, por conta das suas limitações, a primeira coisa que me disseram foi: ‘agora sua vida acabou mãezinha’. Mas não foi isso que aconteceu, quando me entregaram Andhronyco eu nasci de novo.

No início do mês de março, a família foi parar na Unidade de Pronto Atendimento. O caçula estava meio gripado e a mãe levou ambos para uma avaliação. Os exames apontaram uma grave infecção, mas diferente do irmão, Andhronyco não apresentava melhora.

Transfere para lá, transfere para mais além até que o menino, apesar de todos os tratamentos realizados, padece. O corpo chegou em Santa Isabel embrulhado em dois sacos, um procedimento padrão em óbitos por Covid-19. “Mas ele não tinha Covid-19, olha aqui, eu tenho o exame pra provar”, diz Suelen com o documento registrado, em foto, armazenada no celular.

Já na Funerária Paraíso Eterno, Suelen conta que implorou ao responsável que fizesse o velório, uma vez que o filho não tinha Covid-19, queria ela dar o último banho e a última troca de roupas do “bebê”.

“Eu já tinha visto que tinham colocado meu filho enrolado apenas numa coberta, preso por dois sacos pretos. E o rostinho dele, parecia coberto de sangue”, recorda a Mãe.

A funerária cuidou de realizar os desejos da mãe, limpou seu menino e vestiu a roupa que Suelen escolheu. O velório transcorreu com os ritos de despedida tradicionais, mas foram os dias seguintes que provocaram mais dor.

A falta surge na rotina vazia e, sem Andhronyco, Suelen se deparou com a maledicência. “Estão dizendo que meu filho tinha Coronavírus, que o velório não podia acontecer. Querem prejudicar uma das pessoas que mais me ajudou no momento de despedida, transformar a memória dele num instrumento de destruição. Não posso aceitar. Não vou”, diz para a reportagem.

A verdade, reforça Suelen, é que o filho não tinha Covid-19. Ela conta que é grata a funerária por lhe conceder uma despedida, por ter ouvido sua súplica. “Sou eternamente grata por tudo, por ele ter cuidado meu filho como se fosse dele, banhado e penteado com o respeito que ele merecia”.

Se querem para ele um legado, diz Suelen, que seja o do amor, pois é por ele, que tudo faz sentido.

“Andhronyco meu filho, você foi o meu maior presente. Me dói saber que não está mais comigo. Todos os dias penso no seu sorriso, e na lição que você deu para todas as pessoas que te conheceram, a de que ser uma criança especial não te impede de ser feliz, de ter uma vida em família, passeando no parque, na praia… saudades meu filho, descansa em paz”, finaliza.

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