Normalizaram a barbárie – A semana que antecedeu o início da primavera foi bem turbulenta. E mesmo que não quiséssemos nos envolver com os acontecimentos que marcaram essa turbulência, fomos, em algum momento, levados a encará-la.
No início da semana, um vídeo viralizou mostrando universitários pelados em um ginásio, expondo seus órgãos genitais de maneira vexatória, sarcástica e criminosa durante uma competição esportiva, na cidade de São Carlos, onde um time de mulheres jogava vôlei.
A ação, que teria ocorrido em abril deste ano, só ganhou notoriedade agora e faz parte de uma de cartilha de obrigações que vem sendo seguida nos últimos dez anos por calouros que precisam cumprir essas bizarrices, a fim de serem aceitos pelos veteranos do curso de medicina da Universidade de Santo Amaro (Unisa).
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Pasmem, o estupro não vem sendo cultuado por estes universitários apenas nessas competições esportivas, mas também é entoado em hinos durante eventos oficiais da Unisa e outras universidades de medicina do país. É como graduar estupradores e lançá-los para o mercado.
Os ministérios da Educação e das Mulheres cobraram providências da universidade que após muita pressão informou, na terça-feira, que expulsou 15 alunos identificados no vídeo. A secretaria de Segurança Pública de São Paulo disse que a Polícia Civil já abriu inquérito para apurar os atos obscenos e o Conselho Federal de Medicina veio a público repudiar tais atos e cobrar mais qualificação do ensino médico no país.
Fato é que a ação criminosa de estudantes que cultuam o estupro só está sendo punida porque ganhou notoriedade na imprensa, caso contrário essas práticas continuariam ou certamente continuarão a ser praticadas porque, dia após dia, estamos normalizando esse tipo de violência contra a mulher.
No país onde, só no último ano, uma mulher foi morta a cada seis horas e onde batemos um recorde histórico de mais de 75 mil registros de estupros, de acordo com os dados divulgados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, cultuar o estupro deveria ser um crime hediondo.
Não devemos normalizar o estupro. É preciso identificar o crime e exigir resposta imediata, a fim de que a cultura de desvalorização do corpo da mulher seja aniquilada de nossa sociedade, antes que o nosso silêncio continue sendo cúmplice da barbárie.