
“Meu filho foi morto de forma absurda e injusta. Era um trabalhador, cheio de sonhos e planos, assassinado pelas costas a sangue frio”, o relato é de Agnaldo Alves de Siqueira. O pai, que teve o filho morto precocemente aos 22 anos com um tiro na nuca disparado por um policial de folga, quer justiça.
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Matheus Nunes de Siqueira, 22, estava acompanhando um amigo. Eles estavam em um churrasco na casa da avó de Matheus, no Bairro Vila Gumercindo, e foram até o posto na Av. República, no centro de Santa Isabel, na madrugada de quarta-feira, 20/04, abastecer e comprar cerveja.
Era por volta de 2h00, os jovens entraram na conveniência compraram a cerveja, pagaram, voltaram para o carro que estava abastecendo na bomba, entregaram o dinheiro do abastecimento ao frentista e quando se preparavam para sair, dois homens que estavam no posto os abordaram.
“Eles apresentaram um distintivo da polícia civil e disseram vamos ali conversar, levaram os rapazes para um canto do posto. Ele perguntou ao meu filho e você quem é? Matheus então se apresentou e o policial então teria falado: – É você mesmo, senta na mão e espera aí”, relata o pai. Os detalhes narrados por Agnaldo foram passados pelo amigo que estava com Matheus na hora da abordagem.
No momento em que o policial Tiago Cavalcante de Melo se virou para falar com o amigo de Matheus, o jovem correu. Por uma câmera de segurança, de um estabelecimento comercial do outro lado da Avenida, é possível ver o momento em que o policial de folga, Tiago sai correndo atrás de Matheus. Na hora do disparo os dois já estavam fora do ponto de visão da câmera.
Após o disparo, o segundo policial de folga, foi atrás do colega. Nesta hora o amigo de Matheus correu e conseguiu fugir do posto. Ele então voltou até a casa da avó de Matheus e contou o que tinha acontecido. A família e demais amigos foram até o local.
Matheus levou um tiro na região da nuca e caiu. A arma do policial Tiago foi apreendida mais tarde pela Polícia Civil com 14 cartuchos íntegros e apenas um deflagrado. A polícia militar foi acionada através do 190 pelos próprios policiais que abordaram os jovens. Aos soldados eles disseram que só fizeram a abordagem, pois acreditavam que Matheus e o amigo pudessem estar transportando algum objeto ilícito. No bolso, Matheus só levava um celular.
De acordo com a família o Socorro Médico levou cerca de 40 minutos para chegar ao locsl onde Matheus estava baleado. O SAMU até levou o jovem para a UPA, mas lá ele já chegou sem vida.
Tiago e o outro policial de folga que o acompanhava apresentaram sua funcional. Eles são lotados em um batalhão na Zona Leste de São Paulo. No início o caso foi registrado como legítima defesa, pois ao delegado, o PM Tiago disse que só disparou, pois: “Ao correr Matheus olhou para trás e fez um movimento, semelhante aquele que iria retirar uma arma da cintura. E por este motivo, por entender estar presente agressão injusta iminente, efetuou um único disparo”, descreve o boletim.
Ouvidoria da PM solicitará afastamento dos policiais e abertura de novo inquérito
Para o Ouvidor da Polícia Militar, Civil e Técnico Científica do Estado de São Paulo, Dr. Elizeu Soares Lopes, que teve acesso através do Jornal Ouvidor sobre os fatos, é preciso que o caso seja devidamente investigado: “Ao analisar as imagens, embora elas não mostrem muita coisa, é notório que os jovens não apresentavam nenhum risco aos policiais. Como que uma pessoa correndo de costas pode representar perigo? ”, questiona.
Dr. Elizeu informou que na próxima segunda-feira, 25, abrirá um procedimento e solicitará a Corregedoria Geral da Polícia do Estado que abra um inquérito afim de apurar a conduta dos PMs. “Ao mesmo tempo acionarei a Delegacia da Polícia de Proteção Humana e solicitarei ao delegado do caso que ouça novamente as pessoas envolvidas e reportaremos o caso ao Ministério Público de São Paulo”, disse.
Ainda sobre o fato do boletim ter sido registrado como legítima defesa Dr. Elizeu explica que: “Em casos como este é preciso ter cautela, mas o delegado confiou na versão dos dois policiais, que em tese, devem sempre versar sobre a verdade. Se a autoridade policial já tem acesso a imagens e depoimentos que contradizem a primeira versão dada, ele pode e deve solicitar a prisão preventiva dos policiais. Ainda tem tempo de se fazer qualquer reparo necessário neste caso”, explica Dr. Elizeu que disse ainda, que pedirá o imediato afastamento dos policiais de suas funções até que o caso seja concluído.
Matheus nasceu em Santa Isabel, mas mudou-se há três anos para São Paulo. Na Capital ele estudou Tecnologia da Informação (TI) e trabalhava 12 horas por dia como entregador de comida por aplicativos. Ele voltava constantemente a cidade natal para visitar familiares e amigos.
O pai Agnaldo mora em Santana do Parnaíba e chegou a cidade na quarta pela manhã para liberar o corpo do filho: “Eu perdi meu único filho homem, mas eu tive um outro casamento e mais uma filha, no entanto a mãe de Matheus, minha ex-mulher, perdeu o único filho que ela teve. Estamos arrasados e de quarta para cá, ainda esperamos acordar deste pesadelo”, diz Agnaldo.
A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública, mas o órgão não se manifestou.