Homens sem alma

Por Roberto Drumond

Roberto Drumond - Editor chefe do Jornal Ouvidor, fala sobre decisões do STF.

Certa vez a minha profissão me levou a entrevistar um homem que havia matado a machadadas uma família inteira. Não havia motivo claro. Ele sequer conhecia as pessoas a quem tinha atacado numa madrugada fria, na zona rural de Petrópolis.

Ali, sentado no chão diante da grade da cadeia da cidade, ouvi a história de que ele havia sido possuído por um espírito diabólico que o fez tirar a vida inclusive de crianças com golpes sangrentos de machado.

Me pareceu naquele encontro que o homem que falava comigo mansamente, não conseguia distinguir entre a vida e a morte. Se alguém o matasse naquele momento, pouca diferença faria na sua própria existência ou de alguém que eventualmente pudesse se preocupar com ele.

Os matadores são assim! Matar ou morrer tanto faz!

Meses mais tarde ficou claro: o diabo que o possuíra tinha interesse em dominar a terra que a família ocupava em um casebre na zona rural do município.

Foi doloroso demais o desfecho do desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Enquanto a morte era uma hipótese diante dos riscos inerentes da Amazônia, ainda que desagradável, era conveniente. Mas a certeza da morte, promovida por seres humanos, é simplesmente revoltante. Como foi revoltante a conversa com o matador profissional de Petrópolis.

Não existe ideologia que justifique a guerra, embora ela exista como a que assistimos entre Rússia e a Ucrânia. Na Amazônia é uma guerra sem ideologia: é apenas o interesse egoísta de grupos econômicos representados por pessoas como o homem (Amarildo) apontado como autor do assassinato dos dois profissionais que defendiam a vida.

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Abolição de que!

Defendiam a natureza como essencial a existência tanto das tribos indígenas como de pescadores e garimpeiros que legalmente atuassem na região. Eram contra, como todos somos, dos traficantes, contrabandistas e outros clandestinos que usam a complexidade amazônica para suas ações nefastas inclusive tirar a vida de pessoas.

Tão dolorosa quanto a morte dos dois homens é a certeza da ausência do estado em uma região tão generosa quanto a Amazônia. Sinto a morte deles com desesperança, tal como senti naquela tarde em Petrópolis ao defrontar com um homem para quem a vida e a morte pouco importa. Como sinto agora ao ver a narrativa da realidade na Ucrânia.
Homens sem alma é resultado da falta de civilização e essa é fruto do estado ausente e da pouca cultura e educação de seus dirigentes.

A nossa história merece uma mudança!

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