Enxurrada destrói casas no Morro Grande

A chuva da última quarta-feira alagou mais uma vez as propriedades às margens da Arthur Matheus, mas desta vez, a força da água e os prejuízos que ela deixou, foram ainda maiores

Luiz e as vizinhas Bete e Luciane, esperam uma solução definitiva para o drama das famílias do Morro Grande. Foto: Bruno Martins

“Eu nem sei se vou conseguir voltar a morar aqui”. Com os olhos embargados, Bete Catanho ainda tenta entender o que aconteceu na tarde da última quarta-feira, 29/03, quando uma forte enxurrada de lama invadiu sua casa, levando todo investimento da família nos últimos 30 anos. Pela segunda vez, neste ano, a propriedade de Bete e de outros moradores do Bairro Morro Grande, às margens da Rodovia Arthur Matheus, ficou embaixo d’água.

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De acordo com as famílias, as obras de recapeamento, pavimentação e ampliação de pistas realizadas pelo Governo do Estado de São Paulo na Rodovia Arthur Matheus e na Estrada Marilândia contribuíram para o aumento da vazão de água nos dias de chuva.

Às águas que correm pelas canaletas estão sendo direcionadas a uma galeria construída pelo Departamento de Estradas e Rodagem (DER) ao lado da Pedreira Santa Isabel. Após entrar nessa galeria, às águas seguem por uma manilha que passa por baixo das propriedades, e descem em direção ao Bairro Vila Guilherme.

Luiz Carlos Favoreto, que há 45 anos mora no local, conta que a manilha que o DER está utilizando para drenar a água da rodovia, tem entre 50 e 60 centímetros de diâmetro, e foi instalada por ele e pelos demais moradores, ainda no início dos anos 80, quando compraram os terrenos, às margens da rodovia, e construíram suas casas.

Sêu Luiz mora há 45 anos no Morro Grande: “Nunca sofremos dessa maneira”, diz ele. Foto: Bruno Martins

A quantidade que a manilha tem recebido de água é mais que o dobro que deveria, mas como as obras ainda não foram concluídas, a enxurrada tem arrastado para dentro da tubulação grandes pedras, pedaços de troncos e detritos que obstruem a passagem da água.

Luiz mostra uma das caixas de drenagem de sua residência, por onde a água da chuva volta. Foto: Bruno Martins

Como a propriedade de Luiz e a de outros moradores estão abaixo do nível da rodovia, elas acabam facilmente se tornando um ponto de concentração das águas. Com as manilhas entupidas, a água volta para a superfície, após encontrar saída pelas caixas de captação das propriedades.

Luiz explica que nesta última quarta-feira, a enxurrada trouxe para a superfície muita lama. Como não tinha escoamento, seu terreno ficou completamente alagado: “A água chegou a quase dois metros de altura. Em todos estes anos que moro aqui, isso nunca aconteceu”, disse.

Com a estrutura já comprometida, desde a primeira enchente registrada em fevereiro, o muro que separa a propriedade do Luiz e da Bete não suportou e caiu. “A água que estava concentrada aqui desceu com força ainda maior quebrando tudo o que estava pela frente”, recorda.

Luiz entre o muro que separa a sua casa da casa de Bete sua vizinha. Foto: Bruno Martins

Em questão de segundos a água invadiu a casa de Bete. A enxurrada de lama procurou saída pelas janelas e portas, mas não encontrou escoamento suficiente: “No dia só estavam minhas filhas e nossos animais de estimação. Elas pegaram o que conseguiram, mas não puderam fazer mais nada”, recorda.

A casa de Bete foi invadida pela força da enxurrada. “Tudo se perdeu”, diz ela. Foto: Arquivo Pessoal

As filhas, os cachorros e gatos da família ficaram acolhidos na casa da vizinha Luciane Prestes Santos. Luciane explica que sua casa só não ficou alagada pois está situada um pouco acima da casa de Bete.

De acordo com a Defesa Civil de Santa Isabel, não é possível precisar exatamente o quanto choveu na quarta-feira na região do Morro Grande, pois o local não possui pluviômetro, mas de acordo com o coordenador da Defesa Civil, João Buosi, a quantidade de chuva ultrapassou, facilmente, os 30mm em menos de meia hora.

Luiz mostra os estragos que a chuva causou, após forte enxurrada que desceu da Arthur Matheus. Foto: Bruno Martins

Após a primeira enchente na região, os representantes do DER se reuniram com os moradores na Câmara Municipal. A reunião contou com a presença do Prefeito Dr. Carlos Chinchilla e alguns vereadores. Na ocasião o DER informou que fez alguns serviços de limpeza e melhorias da captação das caixas existentes na rodovia e que, com o auxílio de caminhão, com bomba de sucção, conseguiu desobstruir a tubulação que passa por debaixo das propriedades: “No local, identificamos ainda uma tubulação clandestina que estava ligada à linha de drenagem e a retiramos”, disse o representante do Departamento.

Os moradores defendem que a desobstrução das manilhas não foi realizada por completo: “Eles vieram aqui, até iniciaram a limpeza, mas estava tão entupido que a mangueira do caminhão de sucção acabou ficando dentro da tubulação, como não conseguiram retirá-la eles simplesmente foram embora, deixaram dizendo que voltariam depois”, disse a moradora Luciane.

Ainda na quarta-feira, 29, além da Defesa Civil, a prefeitura enviou profissionais da secretaria de Desenvolvimento Social para orientar as famílias. No dia seguinte, uma equipe da secretaria de Serviços Municipais com o uso de caminhões, auxiliou na limpeza das propriedades e na retirada dos móveis e bens que foram perdidos com a chuva.

Em nota enviada a reportagem do Ouvidor, o DER informou que irá instalar grelhas para captação de água a montante das casas, o que impedirá que detritos continuem a entupir a tubulação. “As obras na Rodovia Arthur Matheus ainda não foram finalizadas, a previsão de término é para o final de junho. Estamos na fase de tratamento vegetal nos taludes dos dispositivos de acesso e retorno”, disse. O órgão, garantiu que está elaborando um projeto para a construção de uma tubulação complementar que irá drenar a água da rodovia.

Luiz e os moradores do Morro Grande esperam por uma solução imediata. Foto: Bruno Martins

O DER não respondeu se o estado irá arcar com os prejuízos causados às famílias do Morro Grande.

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