Médicos precisam cuidar cada vez mais da própria saúde mental

Dia 18 de outubro é comemorado o Dia do Médico, mas é necessário lembrar que eles também precisam de autocuidado

Mariana Vieira é médica e pós-graduada em psiquiatria. Foto: Arquivo Pessoal

Dados do Conselho Federal de Medicina (CFM), mostram que nos últimos 14 anos o número de médicos quase dobrou no Brasil. Os números também mostram que cada vez mais a saúde mental destes profissionais tem ficado comprometida. No Dia do Médico, celebrado nesta sexta-feira (18), o Jornal Ouvidor destaca a importância do autocuidado com a saúde mental e como ela pode ajudar estes profissionais a continuar cuidando e ajudando milhares de pessoas.

Segundo o Ministério da Saúde, a data tem sua origem ligada a São Lucas, figura do cristianismo, médico e discípulo do Apóstolo São Paulo. Em uma entrevista com a médica Dra. Mariana Vieira, pós-graduada em psiquiatria, ela destaca a necessidade de se preocupar com a saúde mental dos profissionais da saúde e como é preciso que eles, sobretudo os médicos, tenham autocuidado para poder não só ajudar ao próximo, mas ter uma boa qualidade de vida.

Leonardo: ⁠Como é a saúde mental de um médico?

Mariana: A saúde mental de um médico é algo que nem sempre é visível, mas é tão importante quanto qualquer outro aspecto da nossa vida. A pressão é imensa, as decisões que tomamos afetam vidas, e muitas vezes sentimos que não podemos errar. Isso nos desgasta. A ansiedade, o cansaço emocional e o burnout são realidades que muitos de nós enfrentam, mas temos dificuldade em pedir ajuda. Às vezes, parece que precisamos ser super-heróis, mas a verdade é que somos humanos, e precisamos cuidar da nossa mente com o mesmo carinho que cuidamos dos nossos pacientes.

Leonardo: Você acha que os médicos estudam muito para se formar e esquecem do autocuidado?

Mariana: Isso acontece muito, e eu falo por experiência própria. A rotina de estudos, plantões e atendimentos acaba nos sugando de tal forma que, quando percebemos, estamos exaustos e negligenciando nossa própria saúde. Às vezes, esquecemos que para cuidar bem dos outros, precisamos estar bem também. Acho que um dos maiores desafios é aprender a colocar o autocuidado como prioridade, porque só assim podemos continuar a dar o nosso melhor aos pacientes sem nos perder no processo.

Leonardo: Um médico pode salvar vidas, mas muitas vezes também é o responsável por avisar famílias em caso de falecimento. Qual cuidado se deve tomar para que isso não afete o profissional?

Mariana: Essa é, sem dúvida, uma das partes mais difíceis. Quando precisamos dar essa notícia, sentimos o peso da dor daquela família e, de certa forma, ela também nos atinge. Lidar com a morte nunca é fácil, e às vezes nos afeta mais do que gostaríamos de admitir. Por isso, é tão importante que a gente se permita cuidar da nossa saúde mental, falar sobre nossos sentimentos e, se preciso, procurar apoio psicológico. Não dá para carregar esse peso sozinho. Acho que compartilhar a dor, buscar momentos de descanso e de reconexão com quem somos fora do hospital é fundamental para nos mantermos fortes emocionalmente.

Leonardo: Os Médicos fazem plantões de muitas horas seguidas, depois de um tempo isso pode causar algum problema psicológico?

Mariana: Sim, definitivamente. Fazer plantões longos e seguidos pode ser extremamente desgastante. No início, a gente acha que dá conta, que é só mais uma jornada, mas, com o tempo, o cansaço se acumula e isso começa a afetar tanto o corpo quanto a mente. A falta de descanso adequado, a pressão constante, tudo isso pode levar ao burnout, e isso é muito mais comum do que se pensa. Precisamos falar mais sobre isso, entender que é necessário parar, respirar e talvez até pedir ajuda. O cuidado com a nossa saúde mental não pode ser deixado para depois.

Leonardo: Como é para um médico poder salvar vidas?

Mariana: Salvar uma vida é uma sensação indescritível. É como devolver a alguém a esperança para viver. Quando vejo um paciente se recuperando, é um misto de alívio e gratidão que me faz lembrar por que escolhi essa profissão. Mas é mais do que a técnica, é estar presente no momento de maior vulnerabilidade da pessoa, segurar a mão, escutar, oferecer conforto. Cada vida salva me enche de humildade e reforça a responsabilidade que carrego como médica.

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