Abolição de que!

por Roberto Drumond

turismo
Roberto Drumond - Editor chefe do Jornal Ouvidor.

Ontem foi o dia 13 de maio. Nos últimos anos nós, brasileiros, não observamos mais o significado das datas: não sei o porquê, mas grassou no país uma epidemia de desvalorização de nossa história e do significado de nossas iniciativas.

O 13 de maio quando eu era criança, na escola, era comemorado como o dia a abolição da escravidão. Não sei o que acontece nas escolas atualmente, mas percebo que pouco se fala disso. Fala-se muito, e é verdade, que o racismo está nas ruas e temos visto a demonstração dessa realidade nos shoppings, nos estádios e outros cenários públicos.

Embora estejam intrinsecamente ligados, a abolição não tem nada a ver com o racismo. O primeiro foi um processo histórico do qual nos envergonhamos esquecidos que, na história da humanidade, a escravidão era reservada aos povos derrotados, independentemente de sua raça. O racismo vem da pretensa ideia de que um ser humano pode ser melhor que outro em decorrência de sua origem étnica.

O que marca a nossa história é que fomos o último país a proclamar a abolição e hoje, quando revemos a nossa história, identificamos esse momento mais como uma consequência econômica e não como um gesto de humanidade da princesa Isabel, imagem que nos era vendida na infância escolar.

Contudo não há diferença no fato concreto: qualquer que tenha sido a motivação, o fato ocorreu e a escravidão acabou proibida no país. Proibida? Talvez não, muito possivelmente substituída por outras formas de relacionamento entre a mão de obra e a produção, como os arrendamentos, a meiação e ainda mais recentemente a instituição dos salários. Que hoje sinalizam quem é ou não escravo da força econômica.

Acabamos com a abolição, mas vivemos cercados de situações que muito se assemelha às condições existentes no final do século XIX quando a Princesa Isabel assinou a Lei Aurea. Não me refiro às constantes descobertas feitas pela polícia ou da fiscalização trabalhista de pessoas vivendo em situação análoga à escravidão.

Falo das pessoas que vivem do pouco que conseguem da caridade pública e/ou dos programas sociais. Das pessoas que trabalham pelo salário mínimo e se espremem nos ônibus, nos trens e na esperança de chegarem à tempo a seus empregos. Das que sofrem na fila de espera dos hospitais, dos Postos de Saúde ou dos bancos; que sonham e esperam ter um emprego melhor, mas não conseguem se qualificar porque não dispõem de meios de estudar e aprender.

São as vítimas da nossa nova e moderna escravidão, essa que teimamos em não ver porque, como aquela que existia outrora, não coloca grilhões nos pés

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