Como de costume há anos, uma chuva de curta duração causou mais uma vez uma grande cheia no centro de Santa Isabel. Observe-se que tal fato ocorreu também em outras localidades, a exemplo de Campinas, em que há notícia de duas mortes. E ninguém duvide que nessa próxima estação de chuvas voltaremos a ter – não uma surpresa, porque o fato é previsível – grandes problemas. climáticas
A questão é que a discussão sobre as inundações, a exemplo do que ocorre quando há apagões ou outras tragédias é que, passados os eventos, tudo é esquecido. Foi o que se viu na última quarta-feira em Santa Isabel. Mas, o que está sendo feito para resolver ou pelo menos diminuir os efeitos das cheias?
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Não é preciso ser ambientalista para saber que a proteção do meio ambiente é fundamental não só para garantir qualidade de vida como também evitar tragédias climáticas. E, como medida de justiça, devemos reconhecer que enchentes ocorrem há muitos anos em Santa Isabel, não sendo culpa exclusiva do prefeito Carlos Chinchilla.
É que, em nome do progresso e do crescimento da cidade, as administrações anteriores sempre incentivaram empreendimentos residenciais, comerciais ou industriais que alteraram as condições do uso do solo com clara agressão à natureza. Especialmente nos últimos anos, em que as licenças ambientais foram facilitadas, temos visto uma febre de regularização de ocupações feitas com objetivos claramente eleitoreiros, sem preocupação com a verdadeira reurbanização. O que incentiva novas ocupações.
Reurbanizar é tornar habitável e saudável uma determinada região. Não basta entregar títulos de propriedade se o local continua com os mesmos problemas de antes. É inadmissível uma “reurbanização” que não promova as alterações físicas no local de modo a criar melhores condições de vida para a população, como alargamento de ruas, introdução de equipamentos urbanos etc.
O mesmo se diga com as autorizações para supressão de vegetação, cortes e aterros. Devemos nos conformar que a cidade tem limites físicos para a expansão. E ponto final. Autorizar construções em morros íngremes ou áreas alagadiças é contratar tragédias para o futuro. Foi para evitar isso que o Brasil criou, já há quase sessenta anos, uma das melhores legislações ambientais do mundo, o Código Florestal, cuja aplicação, lamentavelmente, vem sendo modificada ao sabor de interesses econômicos e políticos.
Assim, se quisermos evitar que as cidades se tornem inabitáveis, precisam nossas autoridades criar leis que incentivem – e não punam, como parece ocorrer agora – a manutenção e regeneração das matas, dos vales, que absorvem de maneira natural as águas das chuvas, impedindo enxurradas, além de concorrer para a redução do chamado “efeito estufa”.