A jogatina desenfreada

Santa Isabel
Advogado e colunista do Jornal Ouvidor, Dr. Luís Carlos Correa Leite.

O próprio governo federal anunciou nesta semana que as chamadas “bets” – sites de apostas que passaram a infestar a vida brasileira já há alguns anos – tiveram, no Brasil, uma receita de mais de duzentos e quarenta bilhões – sim, bilhões! – de reais durante o período de um ano. É dinheiro desviado da atividade produtiva sendo enviado para fora do país.

Foi notícia no Ouvidor

Tal número já seria estarrecedor se também não tivesse sido divulgado que beneficiários dos programas sociais, como bolsa família e outros, gastaram no mês de agosto último três bilhões de reais em apostas, dos quatorze bilhões distribuídos à população carente. Ou seja, o dinheiro recolhido dos impostos pagos pela população trabalhadora está sendo direcionado para o mercado de apostas, e não cumprindo a sua função social que é a de garantir o mínimo necessário à sobrevivência da população carente.

Agora, o governo federal anuncia que irá proibir a realização de apostas por meio do cartão de crédito. Ou seja, as pessoas estão se endividando através do cartão de crédito – que cobra os mais altos juros do mercado – para jogar. O jogo, como se sabe, além de se tornar um costume nocivo, pode evoluir para o vício e depois para uma doença mental, à medida em que se torna incontrolável. A pessoa viciada no jogo perde o controle da razão, e passa a ter surtos em caso de abstinência. Como acontece com os viciados em cigarros, bebidas, drogas etc.

Assim, os efeitos dessa praga na vida nacional são danosos sob todos os aspectos, quer seja nas relações familiares, de trabalho e mesmo no quadro da saúde pública. Não são poucos os casos de pessoas que deixaram seus familiares na rua – inclusive filhos pequenos –porque perderam tudo. Isso sem falar naqueles que se endividam na esperança de sair dos problemas causados pelo próprio jogo. Já temos visto casos de pessoas que buscaram no suicídio a saída para seus problemas.

Já é hora, pois, das autoridades tomarem providencias severas com relação às ‘bets”, como foi feito com o uso do cigarro, proibindo a publicidade, inclusive os patrocínios milionários a clubes esportivos, taxando fortemente a atividade, além de partir para a responsabilização das empresas em caso de abuso, como o é a aceitação de apostas com cartões de programas sociais, ou por menores de idade. E serem obrigadas a ter sedes no Brasil, como fizeram com o “X”…

No ano de 1.945, logo após a ditadura Vargas, o então presidente Eurico Gaspar Dutra – ao que consta a pedido de sua esposa – proibiu a atividade de jogos no Brasil, o que ocasionou o fechamento de cassinos e outros tipos de jogos. Mas este continuou na clandestinidade através do então simpático “jogo do bicho”, que ganhou tal corpo que passou a financiar escolas de samba, times de futebol, e outras atividades. Daí para alcançar o poder político foi um pulo. Depois, na década de setenta, o próprio governo federal instituiu a loteria esportiva, mega-sena, loto etc.

Agora, com as facilidades do mundo digital, dos celulares – que também se tornaram um vício – o problema tomou tal proporção que, se não for regulado a tempo, poderá ficar incontrolável.

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