Em meio aos arranha-céus de Mogi das Cruzes, reside e trabalha o sapateiro Hélio Moreira. Saído de Santa Isabel ainda jovem, para servir ao Tiro de Guerra na cidade mogiana, Hélio não deixou de desempenhar o ofício que aprendera ainda pequeno com o pai, há mais de 40 anos. De suas mãos habilidosas saem até hoje, milhares de sapatos que vestem os pés de homens, mulheres e crianças.
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Nascido em 1964, Hélio relembra que seus primeiros contatos com a sapataria começaram logo na infância, vivida em Minas Gerais, acompanhando o pai na oficina da família: “Eu sou filho de sapateiro! Praticamente nasci dentro da profissão. O conhecimento veio de minha família”, recorda.
Ainda jovem, Hélio veio morar com a família em São Paulo, desembarcaram em Santa Isabel, onde aqui, o pai abriu a sapataria Barra Limpa, na Rua Monte Serrat. Na época, além do pai de Hélio, a cidade tinha apenas dois sapateiros e muito serviço para uma época em que o item era luxo.
Aos 18 anos Hélio entrou para o Tiro de Guerra, em Mogi das Cruzes, uma chance única para o jovem sapateiro e uma virada de chave para a sua família, onde ali, na maior cidade do Alto Tietê, montaram uma sapataria ainda maior.
“Meu pai me ofereceu as seguintes opções cuidar de um bar ou uma sapataria. Como as lembranças da minha infância foram sempre construindo e consertando sapatos, não pensei duas vezes”, diz em risos.
No entanto, a jornada de Hélio não foi um caminho pavimentado de sucesso imediato. Ele comenta que os primeiros anos que passou como Sapateiro foram de dificuldades em meio ao trabalho árduo e um pouco arcaico: “A tecnologia da época era bem limitada, quase não existiam maquinários. Tive que aprender a misturar o couro e costurar os calçados com as próprias mãos”, relembra.
Pregos, martelos, linhas, agulhas, facas de corte, tintas, estiradores e muitos outros equipamentos manuais estavam presentes no cotidiano do jovem Sapateiro.
O homem que construiu sapatos com as mãos, hoje vivencia a facilidade e os impactos positivos da tecnologia no setor que só em 2022, produziu mais de 22,4 milhões de sapato, o que representou na época um faturamento aproximado de R$ 2,8 bilhões e empregou 17,5 mil pessoas, segundo dados do Sindifranca (Sindicato da Indústria de Calçados de Franca). “Hoje em dia a tecnologia e as grandes máquinas de costura facilitam demais o trabalho”, diz Hélio.
As mesmas máquinas que ajudam também fazem com que o experiente sapateiro reconheça o breve fim das sapatarias: “É uma profissão que dentro de 15 a 20 anos chegará ao fim. Vai ser cada vez mais raro encontrar uma sapataria aberta por aí, assim como é cada vez mais raro encontrar pessoas que ainda frequentam sapatarias”, lamenta.
Casado com Maria das Graças Pereira, pai de Wellington, Dafne, Warley e Wélber Moreira, Hélio continua passando o ofício da família através dos filhos Warley e Wellington, que seguem os ensinamentos passados entre as gerações.
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“Não me arrependo das escolhas que fiz. Cuidei da minha família, todos estão bem amparados. Não estou rico, mas graças a Deus estou remediado na vida”, afirmou Hélio.
Hélio Moreira deixa, em sua mensagem para as novas e futuras gerações, o apelo: “Peço pelo maior incentivo às técnicas que envolvem o ofício artesanal. Peço aos jovens para que deem uma chance à profissão, afinal de contas, vale muito a pena”, finaliza.